10 de maio de 2011

2 - COMO PODEMOS SER SALVOS? Pelas obras? "Verificais que uma pessoa é justificada por obras, e não por fé somente." Tiago 2: 24 Ou pela fé? "Visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei...Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independente das obras da lei." Romanos 3: 20, 28

RESPOSTA: Será que a Bíblia se contradiz?
Uma crença fundamental dos Cristãos é a de que somos justificados pela fé. Justificação significa que Deus declara um pecador como sendo justo. Ele faz isso ao dar crédito, ao atribuir a retidão de Jesus ao pecador. Isso é feito pela fé. Isto é, quando o pecador põe sua fé no sacrifício de Jesus e confia nele e não em si mesmo pela retidão, então Deus o justifica: Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça (Romanos 4:3). Mas e se a Bíblia ensina que somos justificados pela fé, será que ela também ensina que somos justificados pelas obras como Tiago parece querer dizer? Temos uma contradição? A resposta é não.
O contexto é tudo
É errado pegar um versículo, lê-lo fora de contexto, e tentar desenvolver uma doutrina somente a partir dele. Portanto, vamos dar uma olhada no contexto de Tiago 2:24, que diz que um homem é justificado pelas obras. O capítulo 2 da carta de Tiago tem 26 versículos: Os de 1-7 nos ensinam a não mostrar favoritismo, 8-13 são comentários sobre a Lei, e 14-26 são sobre a relação entre a fé e as obras.
Para simplificar, sumarizei cada versículo e organizei a seção:
14 – Qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras?
15 – Se você ver algum necessitado,
16 – E qualquer dentre vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo, lhes dar o necessário para o corpo, qual é o proveito disso?
17 – Assim, também a fé, se não tiver obras, por si só está morta.
18 – Mas alguém dirá: eu, com as obras, te mostrarei a minha fé.
19 – Crês, tu, que Deus é um só? Fazes bem. Até os demônios crêem e tremem.
20 – A fé sem as obras é inoperante.
21 – Não foi por obras que Abraão, o nosso pai, foi justificado, quando ofereceu sobre o altar o próprio filho, Isaque?
22 – Vês como a fé operava juntamente com as suas obras; com efeito, foi pelas obras que a fé se consumou,
23 – E se cumpriu a Escritura, a qual diz: Ora, Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça.
24 – Verificais que uma pessoa é justificada por obras e não por fé somente.
25 – Raabe foi justificada pelas obras.
26 – A fé sem obras é morta.

Note que Tiago começa essa seção usando o exemplo de alguém que diz que tem fé, v. 14. Então ele começa com a negativa e demonstra o que é uma fé vazia vv. 15-17. Depois ele mostra que esse tipo de fé não é muito diferente da fé dos demônios v. 19. E finalmente, ele dá exemplos da fé viva ao mostrar Abraão e Raabe como exemplos de pessoas que demonstraram sua fé pelas suas ações.
Tiago está examinando dois tipos de fé: Uma que leva às obras para Deus e outra que não. Uma é verdadeira e a outra é falsa. Uma é morta e a outra é viva; daí: A fé sem obras é morta (Tiago 2:26).
Esta é a razão pela qual no meio da seção sobre fé e obras ele dizer no versículo 19: Crês, tu, que Deus é um só? Fazes bem. Até os demônios crêem e tremem. Tiago diz isso, pois os demônios crêem em Deus, ou seja, eles têm fé, mas a fé deles é inútil. Ela não resulta em obras adequadas. A fé deles é somente um reconhecimento mental da existência de Deus.

Ascentia e Fiducia
É necessário introduzir duas palavras aqui: Ascentia e fiducia. Ascentia é a ascensão mental, o reconhecimento mental da existência de algo. Os demônios reconhecem e crêem que Deus existe. Fiducia (ou fidúcia) é mais do que mero reconhecimento, envolve a confiança em algo, entregar-se a algo, uma completa crença e aceitação de algo. Este é o tipo de fé que um Cristão tem em Cristo. Um Cristão, portanto, tem fidúcia; ou seja, ele tem a fé verdadeira e real em Cristo, e não o simples reconhecimento de que ele viveu aqui na Terra. Outra forma de explicar isso é que muitas pessoas criam que Jesus viveu: Ascentia. Mas eles não criam que ele era seu Salvador, aquele a ser buscado e confiado para que obtivessem o perdão pelos seus pecados.
A ascentia não leva às obras, a fidúcia leva. A ascentia não vem do coração, a fidúcia vem.

E o que Tiago está dizendo?
Tiago está dizendo que se você é um Cristão, então é melhor que você manifeste algum tipo de obra adequada, caso contrário, sua fé é falsa. Esta opinião é repetida em 1 João 2:4: Aquele que diz: Eu o conheço e não guarda os seus mandamentos é mentiroso, e nele não está a verdade.
Aparentemente, havia pessoas que estavam dizendo ser Cristãs, mas não estavam manifestando os frutos do Cristianismo. Essa fé justifica? Será que a “fé” morta, que não produz mudanças em uma pessoa e nenhuma boa obra perante os homens e Deus é uma fé que justifica? Absolutamente não. Dizer que crê em Jesus não é o bastante. Você deve realmente crer e confiar nele. Se realmente o fizer, então demonstrará essa fé em uma vida transformada e para Deus. Se não, sua declaração tem o mesmo valor da dos demônios: “Nós cremos que Jesus viveu”.
Note que Tiago na verdade cita o mesmo versículo que Paulo usa para apoiar o ensino da justificação pela fé em Romanos 4:3. Tiago 2:23 diz: e se cumpriu a Escritura, a qual diz: Ora, Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça. Se Tiago estivesse tentando ensinar uma doutrina de fé e obras contradizendo os outros autores do Novo Testamento, ele não teria utilizado Abraão como exemplo.
Portanto, somos justificados pela fé. Ou seja, somos feitos justos aos olhos de Deus pela fé, como amplamente demonstrado em Romanos. Porém, esta fé, se verdadeira, irá resultar em atos apropriados para a salvação. Afinal de contas, Deus disse em Efésios 2:8-10: Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.

Só fé em Jesus Cristo salva, sem o acréscimo de obras (a perspectiva de Paulo).

O texto bíblico é unânime, de começo ao fim . . . Não há nada em nós capaz de merecer a vida eterna.

Rm 3:10-12 “não há justo, nem sequer um; não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer.

Is 64:6 Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia

Ef 2:8,9—Porque pela graça sois salvos mediate a fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie.

Tt 3:5—não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou.

2 Tm 1:9—nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos.

Rm 3:20-28 “visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei . . . Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas, justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos os que crêem . . . sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus; . . . Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei.

Quando lemos esses textos, só podemos concluir que a salvação é obra de Deus, independente das obras, para que somente Deus receba toda a glória. A fé não é uma obra, mas uma resposta à obra prévia de Deus no coração humano. Significa receber um presente dado por Deus. Ninguém se vangloria por estender a mão para receber um presente. A glória pertence àquele que o doou.

Inclusive, à luz desse presente de valor inestimável, qualquer tentativa de comprá-lo diminui tamanho sacrifício feito por Cristo para torná-lo possível. Por exemplo, digamos que um dia você descobre que precisa de um transplante de rim. A única pessoa no mundo que tem um órgão compatível com seu corpo é sua própria mãe. Quando ela fica sabendo da sua necessidade, no mesmo instante oferece doar o rim dela. Depois da cirurgia, você chega para sua mãe e diz, “Mãe, a senhora me deu vida quando entrei nesse mundo; agora a senhora salvou a minha vida. Sou muito grato. Quero fazer alguma coisa para pagar a senhora pelo que fez por mim. Quanto posso te dar pelo seu rim? Será que R$7 seria bom?

Essa é a diferença entre todas as religiões do mundo e o verdadeiro cristianismo. As religiões ensinam que o homem faz boas obras PARA SER SALVO, enquanto a Bíblia ensina que fazemos boas obras POR QUE JÁ SOMOS SALVOS. A religião exalta ao homem, e diminui tamanho sacrifício de Cristo na cruz, pois acha que pode merecer a salvação. Mas o cristianismo exalta a Deus, pois reconhece que seria impossível pagar o que foi comprado por Cristo na cruz. Religião é motivada pela culpa, mas cristianismo pela graça. Religião leva à escravidão, dúvida e insegurança, enquanto cristianismo verdadeiro leva à segurança de um relacionamento filial com Deus.

Então, qual o lugar de obras na vida cristã? Obras são muito importantes, mas como resposta de gratidão pelo que Deus já fez por nós em Cristo.

Paulo e Tiago estão falando em dois contextos diferentes. Paulo combate a idéia de que um relacionamento com Deus pode ser “comprado” por boas obras, enquanto Tiago luta contra aqueles que dizem que a salvação não precisa fazer nenhuma diferença na maneira de se viver a vida. É como se os dois estivessem de costas um para o outro, unidos, mas combatendo inimigos diferentes. Para ambos, a fé em Cristo Jesus é o meio da salvação. Mas Paulo combate o LEGALISMO enquanto Tiago combate a LIBERTINAGEM.

Historicamente, a fé evangélica tem entendido que a fé que salva envolve três elementos: 1) Conhecimento dos fatos do Evangelho 2) Afirmação dos fatos do Evangelho 3) CONFIANÇA PESSOAL nos fatos do Evangelho para MINHA salvação.

Muitos hoje possuem itens um e dois acima. Mas não chegam à fé verdadeira, que exige apropriação pessoal do Evangelho. Não lançam o peso da sua esperança de vida eterna sobre o Jesus e somente Jesus. Afirmam os fatos do Evangelho, mas não confiam unica e exclusivamente neles para vida eterna. Esse passo “radical” só vem quando Deus converte a alma de alguém. E quando esse “novo nascimento” acontecer, há mudanças radicais na vida da pessoa. É isso que Paulo e Tiago afirmam juntos.

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